A exploração de petróleo na Foz do Amazonas ameaça diretamente um dos ecossistemas mais ricos e frágeis do planeta. No coração do encontro entre o maior rio do mundo e o oceano Atlântico, essa região abriga uma biodiversidade sem igual. No entanto, a recente liberação de 47 blocos para exploração petrolífera, feita pela Agência Nacional do Petróleo, reacende o debate entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental. O temor dos cientistas e ambientalistas é que a exploração de petróleo na Foz do Amazonas desencadeie danos irreversíveis, principalmente porque muitos desses blocos sobrepõem áreas de conservação e regiões classificadas como prioritárias para a proteção da vida selvagem.
Segundo dados recentes, dos 56 blocos de exploração na costa, 30 coincidem com zonas de alta prioridade para a biodiversidade, sendo que em 13 deles essa sobreposição ultrapassa 80%. Isso mostra que a exploração de petróleo na Foz do Amazonas não está distante de áreas sensíveis, como se quer fazer crer, mas sim perigosamente próxima de regiões que demandam cuidado extremo. Mesmo blocos que não estão diretamente sobre áreas protegidas ficam, em média, a pouco mais de 20 quilômetros dessas zonas. É o caso do bloco FZA-M-59, sob responsabilidade da Petrobras, que se localiza a cerca de 37 quilômetros de uma das áreas mais sensíveis do bioma.
A aprovação dos projetos de exploração de petróleo na Foz do Amazonas ainda depende de licenciamento ambiental por parte do Ibama, o que gera pressão política intensa. Pesquisadores destacam que essa pressão compromete a integridade regulatória do processo. A falta de uma avaliação ambiental estratégica aprofundada, capaz de ponderar impactos diretos e indiretos, torna ainda mais preocupante o avanço desses empreendimentos. Isso porque a simples distância da costa não basta para garantir segurança ecológica, já que os impactos se propagam por meio de vazamentos, movimentação marítima e modificação do uso do solo.
A exploração de petróleo na Foz do Amazonas não representa apenas um risco imediato, mas carrega consigo um ciclo de vida extenso e arriscado. O processo envolve, primeiro, a perfuração para verificar a presença de petróleo, depois sua possível extração e, por fim, o transporte e tratamento do recurso. Cada etapa implica estruturas de apoio, como gasodutos e navios-tanque, que aumentam a chance de interferência nos ecossistemas marinhos e costeiros. Além disso, o aumento da presença humana e da infraestrutura pode fomentar desmatamento, abertura de estradas ilegais e até o crescimento urbano desordenado em plena floresta amazônica.
Especialistas alertam que a exploração de petróleo na Foz do Amazonas acontece num momento crítico, em que o Brasil se prepara para sediar a próxima conferência global do clima. O paradoxo é evidente: enquanto o país promete compromissos de redução de emissões e preservação da Amazônia, abre caminho para empreendimentos altamente poluentes em uma das regiões mais sensíveis do mundo. A ausência de uma política de transição energética sólida e a falta de diretrizes técnicas claras para o licenciamento agravam ainda mais a crise de credibilidade ambiental do país.
O mapa das áreas prioritárias para a biodiversidade, elaborado pelo próprio governo, comprova a sobreposição com os blocos oferecidos pela ANP. A exploração de petróleo na Foz do Amazonas não é, portanto, um erro de cálculo, mas sim uma escolha deliberada que ignora alertas da ciência e das comunidades locais. Mesmo diante de riscos tão claros, a legislação caminha na direção oposta: a Câmara aprovou recentemente a chamada Lei Geral do Licenciamento Ambiental, apelidada de PL da Devastação, que flexibiliza regras e torna o processo ainda mais vulnerável à interferência política.
O Brasil tem, neste momento, a oportunidade de escolher entre o retrocesso ambiental ou o fortalecimento de políticas sustentáveis. A exploração de petróleo na Foz do Amazonas pode se tornar símbolo do fracasso ou da virada ecológica brasileira. Com uma biodiversidade tão singular em jogo, a responsabilidade recai sobre o poder público e a sociedade civil em exigir avaliações técnicas sérias, escuta às populações tradicionais e um compromisso genuíno com o futuro do planeta. A região amazônica não é só uma fronteira de petróleo, é a linha final entre a vida e a devastação.
Portanto, mais do que nunca, é urgente que a exploração de petróleo na Foz do Amazonas seja revista à luz do interesse coletivo, e não de interesses pontuais. Num tempo em que a crise climática se agrava e as catástrofes naturais se intensificam, insistir em modelos de energia ultrapassados é uma escolha cega. O mundo observa, os cientistas alertam, e o povo da floresta resiste. A última fronteira da Amazônia não pode ser também a última chance da natureza de sobreviver à ganância humana.
Autor: Sokolov Harris