O Amazonas enfrenta um aumento alarmante nos casos de estupro em 2024, com uma média diária que chega a quatro vítimas. Segundo o Mapa de Segurança Pública do Ministério da Justiça e Segurança Pública, o crescimento em relação ao ano anterior ultrapassa quarenta por cento, destacando uma crise grave na segurança e proteção das mulheres no estado. Os dados mostram que, em 2024, foram registrados 1.552 casos de estupro no Amazonas, um aumento de 466 ocorrências em relação a 2023, quando foram contabilizados 1.086 casos. Esse crescimento evidencia a necessidade urgente de medidas eficazes para combater a violência sexual na região.
A maior parte das vítimas de estupro no Amazonas é do sexo feminino, representando 1.353 registros, enquanto os casos envolvendo vítimas masculinas somam 173. Há ainda 25 registros sem definição de gênero. O estado ocupa o segundo lugar na Região Norte em número absoluto de casos, ficando atrás apenas do Pará, que registrou 5.500 ocorrências em 2024. A escalada dos casos no Amazonas revela não apenas o aumento da violência sexual, mas também a persistência de um ambiente social que dificulta a prevenção e o combate eficaz a esses crimes.
Especialistas apontam que, apesar da legislação vigente, a violência contra mulheres permanece normalizada em muitas esferas da sociedade amazonense. A advogada Natália Demes, do Humaniza Coletivo Feminista, destaca que os desafios vão além da lei, pois envolvem uma cultura arraigada de misoginia e violência estrutural. Segundo ela, as instituições sociais, como a família e a igreja, frequentemente reforçam papéis tradicionais que limitam a liberdade das mulheres e naturalizam a violência, dificultando a denúncia e a responsabilização dos agressores.
Além do aumento dos casos de estupro, o Amazonas também apresenta uma alta preocupante nos índices de feminicídio. De acordo com os dados oficiais, os casos subiram 30 por cento entre 2023 e 2024, passando de 23 para 30 mortes. Essa elevação coloca o estado entre os quatro com maior crescimento percentual de feminicídios no país. Manaus, a capital, aparece em terceiro lugar entre os municípios brasileiros com maior número de vítimas dessa violência extrema, ficando atrás somente das metrópoles Rio de Janeiro e São Paulo.
Diante desse cenário, iniciativas para prevenir e combater a violência de gênero ganham destaque. Entre as ações em andamento estão a instalação de promotorias especializadas no Amazonas, o trabalho da Ronda Maria da Penha da Polícia Militar, composta majoritariamente por mulheres, e projetos de pesquisa como o Vigifeminicídio da Fiocruz. Essas iniciativas combinam prevenção, monitoramento e empoderamento feminino, buscando transformar a realidade de vulnerabilidade que muitas mulheres enfrentam.
A Ronda Maria da Penha tem sido fundamental para fortalecer a proteção às mulheres sob medidas judiciais, realizando patrulhamento preventivo e visitas regulares. A presença feminina em cargos de liderança dentro da polícia contribui para a condução mais sensível e efetiva das operações, além de servir como inspiração para o empoderamento das mulheres em diversas esferas sociais. Esse conjunto de ações representa um passo importante para tentar reverter o quadro de violência sexual e feminicídio no Amazonas.
Contudo, especialistas reforçam que combater a violência sexual no Amazonas exige mudanças profundas na cultura social. A normalização do controle sobre os corpos femininos e a manutenção de papéis submissos são barreiras que só podem ser superadas com educação, políticas públicas integradas e o engajamento da sociedade civil. Enquanto esses fatores não forem enfrentados, a escalada da violência sexual no Amazonas pode continuar a impactar a vida de milhares de mulheres, com consequências graves para toda a comunidade.
A crescente violência sexual no Amazonas em 2024 é um alerta para todos os setores da sociedade e para os órgãos governamentais responsáveis pela segurança pública. É imprescindível fortalecer mecanismos de prevenção, proteção e punição para garantir que os direitos das mulheres sejam respeitados e que casos de estupro e feminicídio sejam efetivamente combatidos. O Amazonas precisa de políticas estruturadas e comprometidas para frear esse avanço da violência e construir um ambiente mais seguro para suas cidadãs.
Autor: Sokolov Harris