Muitas vezes, os estúdios de games criam universos inteiros com tecnologias que parecem distantes, mas que, anos depois, se tornam realidade. O Caster de League of Legends, Gabriel “MiT” destaca que diversos jogos lançados nas últimas décadas imaginaram soluções tão à frente do seu tempo que acabam sendo lembrados como “proféticos”. De inteligências artificiais avançadas a realidades virtuais imersivas, alguns desses títulos anteciparam com surpreendente precisão os rumos da nossa sociedade digital.
Esse fenômeno revela não apenas a criatividade dos criadores, mas também como os games funcionam como reflexo (e às vezes premonição) dos debates tecnológicos da época. Seja por meio da ficção científica ou de cenários distópicos, muitos desses jogos foram além do entretenimento e levantaram questões sobre vigilância, privacidade, conectividade e automação que hoje fazem parte do nosso cotidiano.
Quais jogos imaginaram tecnologias que hoje estão entre nós?
Tom Clancy’s Splinter Cell: Chaos Theory já falava de guerra cibernética e vigilância global antes de isso virar pauta recorrente nos noticiários. Watch Dogs, que em 2014 mostrou um protagonista controlando uma cidade inteira com um smartphone, algo que, com a chegada da Internet das Coisas (IoT), está cada vez mais próximo da realidade. Gabriel Mit ressalta que, na época, muita gente considerou exagero. Hoje, temos casas inteligentes, assistentes por voz e sistemas integrados a cidades conectadas.

Em Metal Gear Solid 2, lançado em 2001, a história gira em torno de manipulação de informação em massa e filtragem de dados digitais, uma antecipação impressionante do cenário atual de fake news e algoritmos. Até mesmo Deus Ex, clássico cyberpunk dos anos 2000, tratava de temas como aprimoramentos cibernéticos e reconhecimento facial, quando isso tudo ainda parecia ficção científica distante.
Realidade virtual e inteligência artificial: os jogos previram mesmo?
Com o avanço dos dispositivos de realidade virtual, como o Meta Quest e o PS VR2, jogos como Sword Art Online ou The Matrix Online são lembrados por imaginar mundos totalmente imersivos e conectados a um universo digital. Para GbrMiT, mesmo ainda distantes de uma imersão completa como nos games, já temos as bases sendo construídas. Os jogos atuais exploram ambientes cada vez mais interativos, e o conceito de metaverso nasceu primeiro nos jogos online massivos e persistentes.
No campo da inteligência artificial, Detroit: Become Human e The Talos Principle são exemplos de títulos que debatem questões éticas e filosóficas envolvendo máquinas com consciência. Com a IA se tornando cada vez mais presente em áreas como atendimento ao cliente, diagnósticos médicos e criação artística, os temas abordados nesses jogos deixam de ser apenas enredos interessantes e passam a tocar questões sociais profundas.
Essas previsões foram acertos ou só boas coincidências?
É claro que nem tudo se realiza como os jogos previram. Algumas ideias continuam distantes ou até inviáveis, como viagens no tempo ou cérebros totalmente integrados a redes neurais. Gabriel Mit destaca que o mérito está menos na exatidão e mais na capacidade de levantar discussões relevantes antes da hora. Os games são, de certa forma, laboratórios de ideias, onde desenvolvedores podem testar cenários futuros sem limitações do mundo real.
O mais interessante é que muitas dessas ideias acabam influenciando pesquisadores, engenheiros e designers. Há quem diga que certos conceitos nasceram nos games e só depois viraram alvo de estudo acadêmico ou tecnológico. Essa troca entre ficção e inovação real é um dos elementos que tornam os videogames uma mídia tão poderosa não só como entretenimento, mas como um espaço de provocação e antecipação de tendências.
Por que vale prestar atenção nisso agora?
Com a aceleração das transformações tecnológicas, observar como os jogos tratam o futuro pode oferecer pistas valiosas sobre o que vem por aí. GbrMiT reforça que os games continuarão sendo um campo fértil para imaginar (e até inspirar) soluções que, mais cedo ou mais tarde, podem se tornar reais. Vale lembrar que algumas das ideias mais ousadas começaram como missões em mundos virtuais, e, quando olhamos para trás e vemos o quanto esses jogos acertaram, percebemos que o controle na mão pode ser também uma janela para o futuro.
Autor: Sokolov Harris